29 de abril de 2008

CONSUMISMO - A LETARGIA HUMANA

A sociedade humana contemporânea mutila-se a si mesma e a tudo aquilo que a rodeia, parece que tem um prazer mórbido em destruir as consciências e em anular as ideias tornando todos os indivíduos em corpos mecânicos descartáveis, máquinas que em cumplicidade alimentam outras máquinas superiores a si na sua devassidão e indiferença e que possuem o exclusivo intuito de perpetuar esta situação auto destrutiva de puro masoquismo que se arrasta subtilmente sem que os aglomerados populacionais se dêem conta do processo de extermínio mental a que estão a ser submetidos…

A população é usada como um mero utensílio que move o consumo por meio de técnicas coercivas e manipuladoras cujas abrangem a tentativa de se chegar aos mais obscuros e fúteis impulsos sensitivos decorrentes da artificialidade, não é muito difícil de olhar em redor para tudo o que é publicidade e cartazes e perceber que somos constantemente bombardeados com os conceitos do que deveremos achar como o ideal, o perfeito, e em última análise, o consumível. Basta estar atento ao que se passa em redor dos focos civilizacionais de maior desenvolvimento industrial para testemunhar a acção apocalíptica desses autómatos multinacionais que tornaram as cidades em campos de batalha de consumo onde as vítimas são os civis e os vitimadores são aqueles que, em cumplicidade capitalista, tornaram-se escravos já não tão humanos e cujas mentes foram sitiadas pela ganância e pela necessidade frívola de superiorização.
São esses mesmos “ex-humanos”, agora mais robôs que nunca, que nos impingem os produtos com os quais nos é prometida a satisfação, nem que momentânea ou superficial, introduzindo no meio de tudo isso um conjunto implícito de conceitos imbecilmente limitadores daquilo que é considerado, por meio de uma alienação subversiva instigada pelos estratagemas de marketing multinacional, como os objectos que permitem a cada pessoa elevar-se psicologicamente numa hierarquia fictícia do consumo, o que provoca, nos mais desprevenidos, um estado de espírito de contentamento que somente poderá ser atingido através da aquisição desses mesmos objectos ou situações… e tudo isto é, como tal, um enorme sedativo comunitário onde as populações são forçadas a centrarem os seus objectivos na alimentação e manutenção da máquina pestilenta que é o consumismo.

As consequências deste processo de lava cérebros são óbvias, os indivíduos deixam de ser indivíduos e tornam-se em autómatos inconscientes e anestesiados, cúmplices do mecanismo consumista que foi possuído por uma imprudência desprovida de sensibilidade e que vê na destruição dos recursos naturais o único meio de conseguir atingir a acumulação de lucro usando um conjunto de pretextos tal como a suposta “evolução humana”, que em última análise não é mais que a distanciação do panorama comum de “ser orgânico pensante”, porque no final de contas o pensamento é abandonado na sarjeta, cada vez mais as pessoas são desprovidas de consciência e acabam por ficarem cegas pelo pseudo raciocínio instintivo que as impinge a catapultar a subsistência comunitária, ou melhor, a sua ausência, para um plano onde deixará de ser possível vivermos, ou meramente existirmos, ou onde mesmo isso de “existir” simplesmente passará a não ter significado e importância. Quanto mais o consumo se entranhar nas mentes das populações menos espaço existirá para a consciência e para a noção de que poderemos viver sem a necessidade de artifícios descartáveis, tirando o máximo proveito de outras situações e sensações na vida que são infinitamente mais importantes que as realidades de plástico produzidas de um modo massificado e constante nas indústrias febris de alienação.


Com tudo isto, e tendo somente uma mínima percepção do que é a realidade actual, facilmente se conclui que a máquina do consumo é um ciclo vicioso que se corrói a si mesmo e que a meio prazo irá reduzir a existência humana a um acumulado robótico de indivíduos sem opinião ou vontade de independência ideológica. Os nossos cérebros, os dos humanos, são progressivamente reduzidos a fragmentos que não conseguem discernir o que é prejudicial à liberdade e a toda a situação social/ambiental decorrente da azáfama do consumo, os meios de comunicação/alienação que tão passivamente são aceites e visualizados atingem os membros desacautelados do público com horas intermináveis de uma visão fictícia e virtualmente perfeita daquilo que deverá ser a sociedade, obrigando-os assim a fazerem uma busca por essa ficção irreal na vida real, o único objectivo desses ditos robôs passou a ser o consumo, atingir a “perfeição” estética e a aceitação social… e se tudo isto não cessar imediatamente o mais provável é que acabemos por transformar toda a sociedade numa realidade fria e virtual cujos habitantes não passarão de marionetas de plástico que se limitam tão só a produzir, consumir e destruir e que no decorrer deste processo descartaram os sentimentos e os ideais, a vida portanto…

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